Ser seguido pelo demônio do bloqueio mental realmente é algo assustador para o artista. Muito mais para ele, que depende de exprimir o que sente, ele que sente a necessidade abraçar o mundo, acolhê-lo em seu coração e cuidar de todos como se fosse própria cria.
Quando esse demônio o alcança, o artista se sente fraco, desarmado, inútil, dentro dessa constante batalha que ele tem contra o mundo. Como ele vai continuar a abraçar o mundo, se ele não consegue mais criar a arte no dia-a-dia? Pior ainda. Como ele vai abraçar o mundo, se ele não consegue criar a arte dentro de si mesmo?
O artista é guiado, alguns mais, outros menos, pela emoção. É verdade o que já foi dito, que o coração congelado acaba por minar a produção artística. Mas esfriar o coração é apenas uma defesa pessoal. Convenhamos. Ninguém gosta de sofrer por gostar, por confiar, por amar ou pelo quer que seja. Sim, eu defendo o confinamento interno, e acredito que ele não é nada mais nada menos do que um meio de manter sua integridade emocional. Minto. Já não o defendo mais. Vejo que o artista não pode se aventurar por esses caminhos. O dever do artista é traduzir os sentimentos do mundo.
A partir de hoje, reaqueço meu coração congelado. Volto a amar, desamar, malamar. Talvez eu possa até me arrepender dessa escolha, mas eu sei que se isso ocorrer, sempre terei companhia das letras, das palavras, das notas, das melodias, das harmonias.
No final, a vida sempre foi e sempre será essa música, que começa sem começo e termina sem fim.
Ouvindo: Barão Vermelho - Down em Mim