quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Carta para Valerie - I

Valerie,
essa é a primeira carta que te escrevo, e devo dizer que apenas o pensamento de escrevê-la já me traz uma ansiedade incrível por saber que inúmeros assuntos devem ser tratados. Quero falar sobre amor, sobre arte, sobre pessoas, e sobre tudo sobretudo. Ao mesmo tempo, acho necessário sabermos que apenas um assunto deve ser colocado neste primeiro contato. Desse modo, vale a pretensão de falar apenas sobre tudo, dentre todas as outras coisas.
Creio que ainda não exista nada que simbolize tudo quanto o vazio. Ele, dentro de sua própria existência em si, contém tudo que pode existir no mundo. Todas em potência, claro, mas ao mesmo tempo, todas em sua verdade. É triste como acabamos por ignorar o poder positivo que o vazio e a ausência pode ter sobre nós, e vivemos transformando-os em uma de suas piores facetas.
Venho pra dizer que uma das lições mais importantes que aprendi sobre a nossa integridade é que ela é um dos maiores vazios que podemos ter dentro de nós mesmos. E a partir dele que podemos nos moldar e fazer de nós as pessoas que queremos. Nesse pequeno espaço que agarramos sobre nós, podemos criar, moldar, ressurgir e nos esconder, e só assim podemos viver de verdade.
Cada dia que vivemos é uma tela vazia, é um papel um branco, é uma partitura sem notas, é um quadro branco. A cada dia branco que nos damos em nossas vidas, podemos fazer dele o que quisermos. Pode ser um dia de glórias, de tristezas, de reflexão ou de descanso. Todos eles são válidos, desde que seja um dia em que moldemos nossas integridades do jeito que elas devem ser. Do nosso jeito.

Kauê.

terça-feira, 28 de novembro de 2017

Chuva

Chove
Vejo alguns embaixo de marquises
Outros abrem guarda-chuvas
Enquanto todos fogem, eu ando em direção à chuva.

Muitos não querem se molhar
A maioria tem medo de adoecer
Eu não.
Eu tenho medo de perder aquele momento
O momento em que a água toca meu corpo
O momento em que o vento me empurra
O momento em que a chuva me abençoa e limpa

Eu sei que a chuva não vem sempre
Ela não vem sempre que eu quero
Ela não vem sempre do mesmo jeito
Ela não vem sempre quando eu preciso
Mas quando vem, ela é precisamente o que eu preciso.

Eu não tenho medo da chuva.
Eu tenho medo de que a chuva não venha.
Quando ela chega, tudo vem.
Sons
Frescores
Cheiros
O meu corpo molhado por ela
Meu suor escondido em suas gotas
E minhas lágrimas que são lavadas.
Quando ela me enxuga o suor e as lágrimas, eu sei que posso viver outro dia pra suar e chorar novamente.

A chuva simplesmente é.
E por isso eu a carrego dentro de mim, todo dia.
Mesmo assim espero ansiosamente a chuva chegar.
Enquanto outros a vêem como tristeza e melancolia,
Vejo a renovação e a benção,
Vejo a novidade e a saudade,
Vejo o carinho e a força.
Vejo a falta.
Eu me vejo.
Me vejo fraco, frágil e caído.

Mas quando a chuva vem
Não porque ela deve
Mas quando a chuva vem
Sim porque ela quer vir
Mas quando a chuva vem
Não porque eu quero que ela venha
Mas quando a chuva vem
Sim porque ela virá

Mas
Quando a chuva não vem
Ela faz falta.






quinta-feira, 8 de maio de 2014

Da Obrigação

Obrigo
Não posso

Peço
Não obrigo
Não recebo

Não recebo
Não peço
Não obrigo

Obrigado.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Estética

Por que as
pessoas
preocupam tanto com a be-
leza
se
no final
,
tudo o que fica é o sentimento

?

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Exercício

A música perdeu o som
A pintura perdeu a cor
A escultura perdeu a forma
E eu
Perdi
você.

domingo, 21 de julho de 2013

James Kavanaugh - "There Are Men Too Gentle to Live Among Wolves"

“I am one of the searchers. There are, I believe, millions of us. We are not unhappy, but neither are we really content. We continue to explore life, hoping to uncover its ultimate secret. We continue to explore ourselves, hoping to understand. We like to walk along the beach, we are drawn by the ocean, taken by its power, its unceasing motion, its mystery and unspeakable beauty. We like forests and mountains, deserts and hidden rivers, and the lonely cities as well. Our sadness is as much a part of our lives as is our laughter. To share our sadness with one we love is perhaps as great a joy as we can know - unless it be to share our laughter. 
We searchers are ambitious only for life itself, for everything beautiful it can provide. Most of all we love and want to be loved. We want to live in a relationship that will not impede our wandering, nor prevent our search, nor lock us in prison walls; that will take us for what little we have to give. We do not want to prove ourselves to another or compete for love.

For wanderers, dreamers, and lovers, for lonely men and women who dare to ask of life everything good and beautiful. It is for those who are too gentle to live among wolves.” 

E em meio à vida, esqueci-me da Vida.


terça-feira, 24 de julho de 2012

Você


"Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira."



E eu estou aqui gastando uma hora da minha vida pensando num verso que eu também não consigo escrever. Eu estava com uma urgência de escrever algo e tentei fazer uma poesia, só que ela continuou naquele limbo entre eu e o mundo real. No momento em que eu me vi olhando pra tela do computador, eu lembrei dessa poesia do Drummond, e lembrei também da época na qual eu reclamava, sempre que eu queria escrever algo, que alguém já tinha escrito o mesmo e de um jeito melhor. Daí, pra variar, eu me apoderei das palavras do Drummond e fiquei lendo e relendo... E descobri que o que tava inquieto dentro de mim e querendo me inspirar era você.

Voltei pro meu dilema antigo, onde eu não consigo ser melhor do que os melhores, nem tão original quanto os originais, mas se existe algo que eu sou muito bom é em admirar algo.

Pra que que eu quero criar alguma obra de arte usando você como inspiração, se eu posso fechar os olhos e te olhar? Afinal, você se tornou tão viva na minha imaginação quanto na vida real. Na verdade, você fez a ligação entre o meu mundo e o mundo real.

Pra que eu vou tentar recriar você com palavras ou sons, se eu posso te ter sempre que eu vejo um dia ensolarado, ou sinto o vento no meu corpo, ou cada vez que meu peito bate forte?

Nesse momento, sem querer me comparar a qualquer outro que possa escrever, musicar, dançar, ou qualquer coisa que valha, a única obra de arte que eu já quis criar já foi criada, e por razões que escapam à razão, ela está agora nos meus braços, e nesses abraços, sejam aqueles apertados ou aqueles cujo espaço entre os corpos se estendem por quilômetros (mas que ainda assim são abraços), tenho olhares, beijos, sorrisos.

Essa obra é você, e eu espero que esse imenso momento que eu estou do seu lado inunde minha vida inteira.