Valerie,
essa é a primeira carta que te escrevo, e devo dizer que apenas o pensamento de escrevê-la já me traz uma ansiedade incrível por saber que inúmeros assuntos devem ser tratados. Quero falar sobre amor, sobre arte, sobre pessoas, e sobre tudo sobretudo. Ao mesmo tempo, acho necessário sabermos que apenas um assunto deve ser colocado neste primeiro contato. Desse modo, vale a pretensão de falar apenas sobre tudo, dentre todas as outras coisas.
Creio que ainda não exista nada que simbolize tudo quanto o vazio. Ele, dentro de sua própria existência em si, contém tudo que pode existir no mundo. Todas em potência, claro, mas ao mesmo tempo, todas em sua verdade. É triste como acabamos por ignorar o poder positivo que o vazio e a ausência pode ter sobre nós, e vivemos transformando-os em uma de suas piores facetas.
Venho pra dizer que uma das lições mais importantes que aprendi sobre a nossa integridade é que ela é um dos maiores vazios que podemos ter dentro de nós mesmos. E a partir dele que podemos nos moldar e fazer de nós as pessoas que queremos. Nesse pequeno espaço que agarramos sobre nós, podemos criar, moldar, ressurgir e nos esconder, e só assim podemos viver de verdade.
Cada dia que vivemos é uma tela vazia, é um papel um branco, é uma partitura sem notas, é um quadro branco. A cada dia branco que nos damos em nossas vidas, podemos fazer dele o que quisermos. Pode ser um dia de glórias, de tristezas, de reflexão ou de descanso. Todos eles são válidos, desde que seja um dia em que moldemos nossas integridades do jeito que elas devem ser. Do nosso jeito.
Kauê.